quarta-feira, 8 de julho de 2009
Modernidade e Identidade
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Feiras do Livro de Lisboa e Porto - Análise da qualidade da Marca Gráfica
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Caso de Estudo: Feiras do Livro - Lisboa e Porto
País: Portugal
Data: 2009
Categoria: Eventos
Créditos: Inf. não disponível
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Introdução
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Organizadas pela APEL - Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (Associação sem fins lucrativos e com funções de interesse público e agencia nacional dos Sistema Internacional Standard Book Number - ISBN), em parceria com a Direcção Geral do Livro, das Bibliotecas, Plano Nacional de Leitura e Câmaras Municipais, as Feiras do Livro de Lisboa e do Porto apresentaram novos pavilhões para os seus expositores (editoras, alfarrabistas, livrarias e diversas instituições), assim como uma nova Identidade Visual, comum às duas Feiras. Segundo o Presidente da APEL, Rui Beja o balanço foi bastante positivo, “proporcionando uma completa inversão relativamente à tendência regressiva, tanto de participantes como de visitantes, que se constatava nos últimos anos”, acrescenta Avelino Soares, Director da Feira do Livro do Porto, realçando a transferência da feira do Livro do Porto para o seu local de origem - Avenida dos Aliados.
Em várias comunicações de imprensa que pesquisamos, são sempre destacadas frases que contém as palavras modernidade, moderno ou mesmo a palavra design, surgindo actualmente como uma tendência e um sinónimo de qualidade:
“marcada por pavilhões modernos (...) carácter de modernidade que merece...”
Verificamos que o mercado, a sociedade e o mundo em geral, está saturado de imagens visuais inseridos em movimentos globalizantes que tendem a suprimir as diferenças de uma Identidade maior. Contudo, os factores institucionais como é o caso de eventos, deviam superar todas as questões de índole económica, técnica, comercial, etc., e ter uma conduta de carácter público, logo com funções e responsabilidades essenciais ao desenvolvimento social e cultural do país. Deixaremos apenas esta questão esboçada, direccionando agora o nosso estudo para uma análise mais técnica e morfológica das marcas gráficas adoptadas este ano para as Feiras do Livro do Porto e Lisboa, de modo a tentar responder a dados mais concretos relativos à Identidade Visual comparativamente à realidade dos Signos Identificadores Gráficos analisados.
Qual o verdadeiro significado da utilização de uma linguagem “modernista” quando a Identidade (primeira essência de uma Instituição ou Evento) nos parece inadequada e dotada de graves incapacidades de Identificação Visual?
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Os Signos Identificadores
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Análise da Identidade Verbal
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A Identificação ou denominação do evento manteve a utilização do nome descritivo que define de uma forma sintética os atributos da Identidade do evento (Feira do Livro de Lisboa e Feira do Livro do Porto) e do nome toponímico porque faz alusão ao lugar de origem ou área de influência do evento (Lisboa e Porto).
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Análise da Identidade Visual
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Marca Gráfica
Assumindo-se como a versão Gráfica adoptada por estes eventos os logótipos inserem-se na classificação de marcas gráficas mistas pois utilizam logótipos tipográficos estandardizados (família tipográfica já existente) em conjunto com símbolos abstractos com formas rectangulares sobrepostas (conotando sensações de algum movimento dado pela sobreposição das formas) mas de alguma forma icónicos pois poderão remeter a uma imagem ou referente reconhecível pelos observadores devido às suas semelhanças formais (livros).
Acentua-se como denominador comum nos dois eventos a utilização do mesmo símbolo e a mesma Identidade Verbal (alteração apenas do nome da cidade onde se realiza o evento). Ver Fig. 1 e 2.
Fig.1 – Marca Gráfica da “79ª feira do Livro do Porto”
Fig.2 – Marca Gráfica da “79ª feira do Livro de Lisboa”
Cores
Mantendo ao mesmo símbolo e a mesma Identidade Verbal (alterando-se apenas a designação da localização - Porto ou Lisboa), foram adoptadas as cores azul, laranja, verde e um vermelho nas Feira do Livro de Lisboa enquanto que na Feira do Livro do Porto foram adoptadas as cores azul, lilás e dois tipos de verdes. Apesar da utilização das mesmas formas, os símbolos distinguem-se através das transparências e das alterações cromáticas enquanto que na Identidade verbal e como já referimos a designação de “79ª Feira do Livro” mantêm-se em ambos os casos a preto enquanto que a designação “Porto” utiliza a cor azul, enquanto que “Lisboa” adopta a cor vermelho.
Tipografia
A Tipografia utilizada é uma tipografia estandardizada (família tipográfica já existente) sem serifas.
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Conclusões
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Um dos objectivos da Identidade Visual de uma Instituição ou neste caso de um evento, é o de comunicar eficazmente com os seus públicos, devendo garantir que os seus Signos Identificadores Gráficos, quando aplicados nos diversos produtos de comunicação, não percam a sua legibilidade e por sua vez a sua eficácia comunicativa. Partindo destas premissas detectamos de imediato alguns problemas na marca gráfica realizada para estes dois eventos.
Reconhecendo o Design como uma ferramenta fundamental para a eficácia da comunicação, desenvolvemos a análise da Marca Gráfica da “79 Feira do Livro” através da utilização de alguns parâmetros do modelo teórico desenvolvido por Norberto Chaves e Raul Belluccia no livro “La marca corporativa. Gestión y diseño de símbolos y logótipos”.
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Parâmetros de avaliação dos Signos Identificadores Gráficos
Marca Gráfica analisada: 79ª Feira do Livro do Porto e Lisboa
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1 - Qualidade Gráfica
Analisando qualitativamente os Signos Identificadores Gráficos desta marca gráfica (famílias tipográficas adoptadas, formas, elementos iconográficos, aspectos cromáticos, texturas, formas, etc.), detectamos de imediato um grau de desequilíbrio formal, nomeadamente nos elementos tipográficos. A utilização da verticalidade da palavra “DO” e da letra “a” sobreposta ao símbolo e ao número “9”, e o espaçamento das palavras “Porto” e “Lisboa” prejudicam a leitura e a eficácia da marca. A utilização da “caixa alta” e da “caixa baixa” parece-nos igualmente desadequada dada a sua interligação. Relativamente aos aspectos cromáticos, não conseguimos perceber as razões para a utilização de 5 cores (preto, azul, dois tipos de verde e lilás) com a aplicação de transparências e sobreposições das formas (símbolo), originando ainda mais cores. Analisando a marca gráfica no seu geral efectuamos um pequeno exercício, semi-cerramos um pouco os olhos e percebemos de imediato que a mesma não tem legibilidade. Assinalamos essa falta de legibilidade nas aplicações dos diversos produtos de comunicação, nomeadamente nos cartazes.
A eficácia dos Signos Identificadores Gráficos apenas é atingida quando se gerem os significados e apenas desse modo, a Identidade (o que a Instituição é objectivamente) se converte adequadamente em Imagem (o que cada um pensa que é). Neste ponto a Imagem não é um fim em si mesmo, mas um valor do mesmo modo que a Identidade não é um fim mas a essência que a comunicação deve converter num instrumento de gestão estratégica.
De acordo com esta análise concluímos que o valor qualitativo desta marca gráfica é negativo. A responsabilidade pública como ponto de convergência do discurso de comunicação Institucional não é consistente. Preconizamos a necessidade de reforçar a ideia que a Identidade começa por um signo linguístico (o nome) e para alcançar condições de singularidade, emoção, pregnância, etc., o nome verbal transforma-se posteriormente em signo visual.
2 - Suficiência
Devendo existir o máximo ajuste entre o reportório dos Signos Identificadores Gráficos e as necessidades reais de identificação, numa análise relativa à suficiência detectamos um excesso de elementos gráficos criando dificuldades de leitura e logo de interpretação de significados.
3 - Tipologia
A tipologia desta marca gráfica insere-se numa marca gráfica mista (símbolo e logótipo), contudo e como já referimos a conjugação dos diversos elementos que o constituem é desadequada e não constitui uma identificação concreta, distinta e aconselhada para este tipo de evento.
4 - Inteligibilidade
Os aspectos semânticos de uma marca gráfica devem ser devidamente clarificados para que o tipo de interpretação pretendida seja coincidente com a intenção identificadora. Se o objectivo passa por uma intenção identificadora abstracta, o público deve descodificar uma mensagem abstracta. A inteligibilidade é inimiga da dúvida e da confusão. Se o objectivo do símbolo desta marca gráfica é ser representado pela imagem de livros, então seria importante que os seus públicos vissem e distinguissem os mesmos o mais claramente e rapidamente possível.
5 - Atracção
Após a análise dos dados anteriores nomeadamente as questões de legibilidade, morfológicas, cromáticas e dimensionais, achamos que a marca gráfica adoptada este ano para as Feiras do Livro do Porto e Lisboa não teve a capacidade de atrair a atenção dos seus públicos.
Fontes
Chaves, Norberto, Belluccia, Raul (2006). La marca corporativa. Gestión y diseño de símbolos y logótipos. Buenos Aires: Paidós. (Edição original 2003)
http://www.apel.pt
http://feiradolivrodelisboa.pt
http://feiradolivrodoporto.pt
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